Luiz Marinho
A operação das polícias do Rio de Janeiro na favela do Jacarezinho é uma demonstração da visão de mundo daqueles que governam o Brasil e aquele Estado. A vida dos moradores de bairros onde vivem trabalhadores e trabalhadoras de nada valem para eles.
O saldo da operação foram 3 dezenas de mortos, alguns com denúncias de terem sido vítimas de execução. E nenhum grande traficante preso. Ou seja, essa operação em nada mudará a face do crime em um estado que convive com o tráfico, a corrupção, as rachadinhas, as milícias e os crimes por encomenda, como é o caso do assassinato de Marielle Franco.
Essa operação apenas ocorreu porque era direcionada a uma favela. Porque nos bairros de bacanas, onde moram os grandes traficantes, os chefes das organizações, quem realmente financia o crime, operações como essas não são realizadas.
Então é claro que ao falarmos de uma operação desse tipo não estamos tratando de questões de segurança. Estamos falando de preconceito de classe e de racismo, sim. Um comandante da Polícia Militar de São Paulo certa vez admitiu publicamente que a abordagem na periferia deveria ser diferente daquela dispensada aos moradores dos Jardins, região nobre da capital paulista.
O combate ao crime organizado é fundamental. Não há dúvida quanto a isso. Contudo, é preciso usar da inteligência e da tecnologia para ter efetividade. É preciso atuar para prender os cabeças, os financiadores, os grandes chefes do crime. Combater as formas como esses criminosos utilizam para lavar os lucros do crime. Ou seja, seguir o rastro do dinheiro. Assim como fechar as fronteiras nacionais e estaduais para as armas.
O que ocorreu nessa operação foi enxugar gelo. Nada justifica o Estado agir com violência desproporcional e de forma covarde, como está cada vez mais claro que aconteceu neste episódio do Jacarezinho, a exemplo de várias outras operações em comunidades país afora.
Os grandes traficantes seguirão aliciando a juventude da periferia, ainda mais com essa crise econômica, com desemprego em alta, por conta da política excludente levada a cabo pelo governo federal. O que é preciso, de fato, para tirarmos os jovens das mãos do tráfico é trazermos a esperança de volta em um projeto de Brasil que gere oportunidades e perspectiva de futuro para todos e todas. Um Brasil onde a cor da sua pele, o local onde você mora ou a sua renda não sejam motivos para você ser atacado pelas forças que deveriam garantir sua segurança.
Luiz Marinho é bacharel em direito, presidente do PT/SP, foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e da CUT, ministro do Trabalho e da Previdência no governo Lula e prefeito de São Bernardo do Campo