O silêncio dos culpados

Luiz Marinho

O Dudu, uma criança de 5 seus anos, é questionado pela mãe sobre quem teria feito os riscos no sofá. “Eu não vou falar”, responde aquele menino sem olhar para sua mãe com uma caixa de canetas coloridas em uma das mãos e uma caneta solitária amarela em outra. Justamente a cor dos riscos no sofá. Quem é pai ou avô, como é o meu caso, sabe que desde cedo os pequenos aprendem a usar o silêncio como um método para não assumir suas responsabilidades e culpas. E assim, homens e mulheres vão crescendo quando suas famílias não ensinam que a verdade é sempre o melhor caminho.
 
Pois parece que o general Pazuello optou pela mesma estratégia do Dudu. Fugir da verdade escondendo-se em um silêncio culposo. Ele, como todos os demais bolsominions, ao recorrer ao Supremo reivindicando o direito a não responder perguntas na CPI do genocídio, mesmo que ali estejam na condição de testemunhas, estão sim admitindo responsabilidades sobre as milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas nesta pandemia.
 
No caso de Pazuello as canetinhas coloridas estão em suas mãos, em sua mesa, bolsos, pastas. Em sua mente. As provas estão em suas ações e inações. Contudo, para mim até agora ele parece ser cúmplice de um crime. Ou será que o silêncio busca esconder que é ele um dos mentores da solução colocada em prática no não enfrentamento correto ao coronavírus?
 
Pois vejamos. Em momento algum identificamos ele, Pazuello, como a maior autoridade em saúde do País questionar o comportamento de Bolsonaro por estimular aglomerações, o não uso de máscaras e o uso de um tratamento precoce digno de charlatanismo. Ele concordaria com o seu presidente? Ou o seu presidente estaria dando voz ao que ele mesmo defendia?
 
Assim como não o vimos questionar o seu presidente quando este criticou vacinas, usando o seu costumeiro tom pejorativo e ainda acusando um país parceiro comercial e fundamental na produção dos insumos farmacêuticos necessários para produzirmos vacinas no Brasil, inclusive acusando este país de ter “criado” o vírus.
 
Mas há mais canetinhas coloridas nas mãos de Pazuello. A demora no fornecimento de oxigênio para Manaus, condenando à morte centenas de pessoas, é claramente de sua responsabilidade.
 
Assim como a recusa em comprar vacinas ainda no ano passado, como já ficou demonstrado nos depoimentos de dois ex-ministros do governo Bolsonaro e do próprio executivo da empresa produtora que confirmaram que a oferta do imunizante foi feita ainda no início do ano passado e endereçada a Bolsonaro, ao próprio Pazuello e outros cúmplices nessa tragédia anunciada.
 
Ao ficar calado na CPI, Pazuello colocará luz sobre o terreno fecundo que é o silêncio. Perderá a oportunidade de dizer de quem eram as ordens para fazer o que fez e o que não fez. Admitirá sua culpa. Assumindo para si a responsabilidade com o mesmo peso do verdadeiro responsável por tantas mortes que poderiam ter sido evitadas: o seu chefe.


 
Luiz Marinho é bacharel em direito, presidente do PT/SP, foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e da CUT, ministro do Trabalho e da Previdência no governo Lula e prefeito de São Bernardo do Campo

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