Sobre o fascismo à brasileira II

Para os fascistas, em vez do debate fundamentado, o ódio e a raiva. No caso brasileiro, são inúmeros os exemplos de como pessoas vinculadas ao projeto de Bolsonaro trabalham essa especificidade do conteúdo do discurso e da prática fascista. Porém, é interessante para o debate que proponho marcarmos como eles pavimentam o caminho a partir do conceito da irrealidade.

Assim como todo o movimento fascista, os bolsominions atacam as universidades. O corte de verbas e o absurdo de o próprio (des)ministro da Educação acusar universidades federais de possuírem plantações extensivas de maconha ou laboratórios para a produção de drogas sintéticas são exemplos de movimentos claros para a construção da irrealidade. Apesar de ter em seus quadros um astronauta, eles, sem qualquer cerimônia, colocam em dúvida a realidade e defendem, por exemplo, que a Terra é plana.

Assim como em todos os projetos fascistas, no de Bolsonaro, o espaço de informação também é destruído com a repetição de mentiras óbvias. Quem não se lembra de pelo menos uma fake news espalhada por essa gente durante a campanha eleitoral? Mamadeira de piroca e kit gay são dois conteúdos mentirosos que foram extremamente distribuídos por meio do WhatsApp e das redes sociais. Aqui, contaram, inclusive, com o financiamento de empresários sonegadores contumazes de impostos. E, mesmo durante o governo, as mentiras continuam a ser repetidas, porque é da essência do fascista a mentira descarada.

A essas mentiras somam-se, nessa construção da irrealidade, a divulgação de teorias da conspiração. No caso brasileiro, o “comunismo”, representado pelos partidos de esquerda e, mais especificamente, pelo PT e seus governos, é uma conspiração contra os valores “cristãos” a ser combatido. E, nesse combate, tudo se justifica.

Assim funcionam as teorias da conspiração, normalmente tão estranhas, que, na maioria das vezes, é impossível crer que as pessoas as levariam a sério. Porém, quem as cria e as divulga não tem o objetivo de que as pessoas acreditem nela, mas procuram levantar suspeitas da credibilidade e da decência de seus adversários e atacar a mídia tradicional, colocando-a em xeque por não cobrir nem divulgar essas conspirações. Nesse particular, falta apenas Bolsonaro dizer que a Globo é petista.

E o que buscam os fascistas ao desacreditar as universidades e a imprensa (mesmo a burguesa)? Atacar elementos importantes para a tomada de posição, para a formação de opinião. Assim, o terreno fica livre e fértil para que as pessoas busquem referências a seguir, e não apenas a verdade e a confiabilidade presentes no conhecimento gerado e divulgado corretamente. Dessa maneira, o espaço para a irrealidade está mais amplo, e nele se fortalecem as ideias fascistas.

No texto anterior, escrevi o conceito de hierarquia e, hoje, o de irrealidade; dois importantes vetores do discurso fascista. Como mencionei, não sou um teórico do fascismo nem me disponho a qualquer conclusão. Procuro apenas provocar nossos teóricos para que proponham esse debate a fim de elaborar uma estratégia além da resistência, ou seja, de combate ao que claramente está se construindo no Brasil.

Fascistas não passarão.

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