Sobre o divisionismo de Ciro

Quem me conhece sabe que não sou de alimentar polêmicas que atrapalhem a construção da unidade em nosso campo de esquerda e democrático. Sou daquelas pessoas que acreditam que os nossos adversários estão fora desse campo. Justamente por pensar assim, vou dedicar algumas linhas a comentar a postura de Ciro Gomes, em especial, em relação ao presidente Lula.
E por que farei isso, se, ao fazê-lo, estarei estimulando polêmicas na esquerda? Simples. Para mim, Ciro não se encontra mais entre nós, se é que esteve algum dia. Ao reverberar o que desejam algozes das teses à esquerda, ele insiste em demonstrar que confia mais no lado de lá do que no de cá. Seria a mesma coisa se nós déssemos ouvidos e amplificássemos as críticas que os seus opositores fazem sobre as gestões do seu grupo na cidade de Sobral.
Quero falar, na verdade, sobre a negação dele quanto à centralidade da luta pelo Lula Livre. Já que tenho Ciro como uma pessoa intelectualmente acima da média, só posso creditar essa postura a um oportunismo político por um desejo de se posicionar no cenário eleitoral. Mas pelo contrário: isso o reduz, intelectual e politicamente.
Se recusar a ver que a luta por Lula Livre carrega em si a defesa do Estado democrático de direito não revela apenas uma miopia política, mas também uma adoção de sofismas como instrumento de discurso. Sim, o Lula Livre é a defesa da democracia e também de um processo justo para todos os brasileiros e brasileiras, não se tratando da defesa de um cidadão brasileiro apenas – em que pese a defesa de direitos para uma pessoa apenas sempre valer a pena. E muito mais no caso de Lula, que é sim um preso político da dupla Moro-Dallagnol. O que está em discussão é a universalidade dos direitos.
A luta por emprego para 14 milhões de brasileiros e brasileiras também passa pela defesa do Estado democrático de direito, pelo direito a liberdades, pelo respeito de direitos de negros, mulheres e LGBTS e pela defesa do patrimônio público. Passa pela retomada de um projeto de Brasil inclusivo, que respeite a todos e que gere oportunidades.
Projeto de país que teremos de volta ao retomarmos um governo de esquerda, que passa, sim, por Lula Livre e que, cada vez fica mais claro, não contará com a participação de Ciro Gomes.

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